terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Mais vale tarde, que nunca!

Este ano, resolvi aprender a andar de bicicleta! Tenho quase 25 anitos, quase ¼ de século de vida e isto pode parecer estranho, mas é a realidade. Vá lá! Riam-se, gozem, espantem-se, que eu não me importo! Mais vale tarde, que nunca!

A ideia veio da minha necessidade de fazer exercício físico. Não que eu esteja uma baleia... Simplesmente, vivia com a sensação de ter um corpo enferrujado e sentia saudades daquele cansaço gostoso que sobrevém depois de um exercício relativamente puxado. O meu curso tem-me obrigado a muitos sacrifícios e esse era mais um deles. Muitos não perceberão ou não concordarão, mas eu cá sei ao que me refiro...

Enfim, começar a andar de bicicleta era matar dois coelhos de uma cajadada só: punha-me a mexer (mente sã em corpo são!!), divertia-me, relaxava-me, fazia-me poupar algum dinheirito em viagens de autocarro de cada vez que quisesse visitar os amigos que vivem mais longe de mim (faz-me sempre um jeitaço ter mais alguns trocos quando chega o fim do mês...) e ainda podia livrar-me, por fim, do sarcasmo dos meus amigos e do sorriso incrédulo dos conhecidos que ficam a saber que eu não tinha aprendido a andar de bicicleta quando era garota. Ora vamos lá a ver... parece que, afinal, matei uma coelheira inteira...

Resultado: o meu pai dispôs-se a arranjar uma bicicleta de adolescente que me tinham comprado há uns anos atrás, que estava quase nova, mas que eu nunca tinha podido utilizar. Encheu os pneus, apertou os parafusos soltos, pôs travões novos, faróis e uma pequena e estridente campainha com um leãozinho colado. Está uma gracinha! Bem sei que é uma bicicleta pequena para mim, mas cabe no carro e é suficientemente grande para eu poder andar. Parece uma daquelas que os miúdos usam para fazer acrobacias! Quando passo na rua, lá em Cádiz, há sempre alguém que se ri. E eu rio-me também. Admito que fica um pouco estranho, mas é o que há!

Ainda me lembro de ir de férias com alguns amigos e ter aceite o desafio para ir dar umas voltinhas com eles. Céus! O que eu sofri nesse dia... Mas agora, até já tiro uma mão do voltante! Não se preocupem! Sou uma condutora responsável, paciente e muito simpática. Só atropelo rapazes bonitos e solteiros...

O mais interessante de toda esta história foi ver o meu pai todo entusiasmado em me preparar a bicicleta. Quando, finalmente, ficou pronta, levou-me para o largo das traseiras da minha casa e pôs-me a dar voltinhas, enquanto me enchia de conselhos. Não precisei daquelas rodinhas que se põem atrás. Vá lá, se estiverem a pensar nisso, podem tirar o cavalinho da chuva e tornar-se menos ruins.

Todo babado, o senhor Comandante lá me mirava com os seus cabelos e barbas grisalhos e olhar enternecido. Era notório que aquilo lhe dava prazer! As pessoas esquecem-se que são as pequenas coisas, como isto, que fazem a nossa felicidade. E embora estivéssemos 10 ou 15 anos atrasados, lá estávamos os dois, numa cena memorável de pai e filha. Podem crer que nunca mais vou esquecer! Penso que o meu querido papá se redimia. E a mim, também me fazia feliz vê-lo assim, satisfeito. Mais vale tarde, que nunca!!!

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

A mulher das calças

Hoje, fui com a minha mãe ao IPO, para ela participar num exame de rastreio do cancro de cólon. Sou suspeita de o dizer, mas a minha mãe é uma peça única e uma paciente exemplar (infelizmente, já tive de a ver internada mais do que uma vez). Quem me dera que todos os meus futuros doentes fossem tão bonzinhos e bem-dispostos como ela! E corajosos, também!

Enfim, íamos nós por aí acima, quando reparo que vêm a sair do edifício principal dois palhacinhos daquele grupo que anda a animar as crianças pelos hospitais. São verdadeiramente impressionantes e o seu trabalho louvável e muito necessário. Mas nesta curta história, eles não são os protagonistas. Atrás deles, dou-me conta, por acaso, de uma senhora de meia-idade a quem caem no chão, subitamente, as calças. Palavra! Pois a boa mulher, em vez de puxá-las rapidamente para cima e olhar a toda a volta, disfarçadamente, para se certificar de que ninguém se deu conta, baixa-se, sim, para puxar as calças, mas devagar, rindo-se a plenos pulmões e deixando todos surpreendidos. Só eu, a minha mãe e umas empregadas de limpeza que estavam sentadas a descansar é que nos demos conta. Os outros, com certeza, pensaram que a mulher era doida. Nenhuma de nós conseguia conter-se e as lágrimas já nos rolavam pela cara abaixo, como se nos tivessem dado um par de tabefes. E aí foi ela, rua abaixo, rindo-se sem parar e dizendo que nunca pensou que lhe pudesse acontecer uma coisa daquelas. Ah! Que sentido de humor admirável! Aquilo, só vendo! Contado assim, até perde a piada... Parecia uma cena tirada daqueles apanhados de vídeo que costumavam fazer na Euronews!

terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

A propósito da vida humana

Esta noite, vi uma reportagem que me deixou boquiaberta! Uma menina nasceu com menos de 400g, às 22 semanas de gestação e sobreviveu até agora! Cabia na palma da mão...

Saíu da incubadora e está pronta para ir para casa com os pais, com cerca de 4 meses de vida. Disseram os médicos que ela deveria adquirir as capacidades dos bébés normais de uma forma mais lenta, dada a sua prematuridade, mas até nisso ela tem sido uma surpresa!

Claro que teve as suas complicações... infecções respiratórias, problemas digestivos, hemorragia cerebral... mas parece que nada disso lhe deverá deixar sequelas. Será?

Milagre? O que é um milagre? Seja o que fôr, abençoada criança! Que seja muito feliz! E que me perdoem os outros profissionais, mas a medicina e a enfermagem são do mais priveligiado que há! Lidar assim de perto com a magia e o poder da vida humana, para o bem e para o mal, é... aiiii...

Obrigada, Deus, por esta benção!

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Esperança

Casacão pesado, lenço na cabeça e enormes sacos pendendo dos braços, a mulher negra discursava gritando do lado oposto da plataforma do metro: "...que raio de mundo é este?!...todos criticam a escravatura, os judeus já não são perseguidos, defendem-se os direitos dos animais, mas vidas humanas com menos de 10 semanas de existência podem ser aniquiladas?!!!!..."

Do lado de cá da estação, aguardando o transporte de regresso a casa, era impossível não ficar impressionado com aquela figura que, cada vez mais embravecida, não se calava!

"É maluca", comentou uma boca coberta de batôn vermelho ao meu lado.

De facto, parecia maluca. No entanto, não encontrei NADA que não fosse verdade no que ela dizia! E foi isso que transmiti à minha vizinha no momento em que nos levantávamos para entrar na carruagem que entretanto se aproximava. "Tem razão"- desabafou - "maluco é quem não reage ou aprova que se mate quem ainda mal começou a viver!"

Como passageiras cansadas que estávamos, ocupámos os últimos lugares sentados. No vidro a que me encostei um autocolante lembrava que aquele banco deveria ser cedido a quem estivesse sob condições especiais- grávida, nomeadamente. Olhei em volta e não vi nenhuma. Veio-me então à cabeça uma frase de Tagore: "Cada criança que nasce traz a mensagem de que Deus ainda não perdeu a Esperança no Homem."


Será que Deus está a perder a Esperança no Homem?


Sendo Esperança o título que dei ao texto que acabei de escrever, parece-me um pouco triste a frase com que o termino. Assim, prefiro acreditar que, um dia, TODOS reconheçam que TODOS têm direito a nascer e desse modo Deus tenha motivo para ter Esperança no Homem.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

Free (almost) as a bird

Bom, como sou uma abusadora, vou ocupando espaço neste blog. De qualquer forma, só lê quem quiser, né?! ;)

O leão serenou um pouco, mas a fúria ainda lá está, contida, à espera de sair, qual panela de pressão. Acontece que estou, efectivamente, decidida a transformá-la em algo de positivo. É uma força cuja intensidade não se pode desperdiçar!

Por agora, pelo menos durante cerca de um mês e meio, acabaram-se os exames chatos e difíceis e, portanto, estou um pouco mais livre para fazer aquelas coisas pelas que tanto anseio. Free (almost) as a bird! O problema está em que, ironicamente, hoje levantei-me meio desorientada, sem saber bem o que fazer ou por onde começar. Topam o absurdo da situação??!! Acho que, um dia que me reforme (ainda nem comecei a trabalhar e já estou a pensar na reforma?!), serei daquele género de pessoas que não poderá estar parada. Sim, certamente! Se parar, morrerei! Enfim, levantei-me, liguei rádio, olhei para a minha secretária desarrumada e para a minha casa não muito suja, mas a precisar de uma limpeza e pensei que há coisas de que nunca nos safamos... Esta vida de estudante está a dar cabo de mim! Raparaparaparaparaparari... Apesar disso, já estou cheia de saudades desta vida. Isto admite-se?! Parece que vivo em dois tempos diferentes, simultaneamente.

Eheheh! O mais giro é eu estar aqui na biblioteca, viajando na maionese (como dizia meu amigo brasileiro), enquanto os outros desgraçados marram nos livros. Bom, nem todos. Os meus vizinhos, queridos colegas portugas, divertem-se a jogar poker no PC. Isso mesmo! Um destes dias tenho que vos falar sobre eles! São uns personagens! Aproveitem para cuscar o blog deles (aqueleblog.blogspot.com) e divirtam-se!

Bem, isto hoje não está a correr bem. Acho que vou indo.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Como um leão enjaulado

Conhecem aquela expressão "como um leão enjaulado"? Pois foi a melhor forma que encontrei para descrever como me sinto neste preciso momento. Aliás, tenho 15 minutos para falar sobre o assunto - foi o tempo que propus a mim mesma. A partir de então, toda esta raiva que sinto, esta vontade de matar um punhado de pessoas que conheço aqui, terá de ser transformada em energia e determinação para trabalhar e tornar frutuoso o meu esforço. Claro que, dito assim, nada disto faz sentido, mas como eu já disse, só tenho 15 minutos (agora, um pouquinho menos...) e portanto, vejo-me obrigada a fazer alguns cortes no meu desabafo. Acreditem que matar essas pessoas seria pouco. É gente que não vale o ar que respira! Não suporto pessoas que se consideram acima dos outros, que não medem as consequências dos seus actos, que são injustas deliberadamente e más e pensam que podem, pura e simplesmente, fazer o que querem. Desengane-se quem pensa que neste mundo não há justiça. Parece que não há! Ela tarda, mas não falha! E eu não preciso mexer uma palha para que estas pessoas que tanta raiva me despertaram acabem por "pagar os seus pecados". Não sou rancorosa, nem vingativa. Quem me conhece, sabe que sou moça de bons sentimentos, que procura a harmonia e a tranquilidade. Sei que este texto parece demonstrar o contrário, mas, afinal, quem nunca teve um dia mau? Quem nunca se encontrou perante pessoas ignóbeis? Como não lhes vou bater (porque näo acredito na violência como modo de resolver os problemas), muito menos as vou matar, esta foi a forma que encontrei para desabafar alguma da minha tensão. Conselho, para quem estiver interessado: a melhor vingança, é ser-se feliz! Por isso, vou trabalhar para a minha felicidade! E porque sou, de facto, aparentada com os felinos, quando estou zangada comporto-me como um leão enjaulado e aconselho a não cutucarem a fera com vara curta, esta minha raiva vai fazer-me alcançar os meus objectivos! Tenho dito!

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Cacifo que não abre

Depois da correria típica de manhã para chegar “não tão atrasado” às aulas e após ter deixado parte do peso acessório do meu corpo (casaco + camisola de capuz + livros + dossier) no cacifo, também já de si bem “pesado”, lá fui eu para mais um dia de Medicina, agora com mais prática clínica.
Um pequeno à parte, até porque este episódio é sobre o meu cacifo: acompanha-me há já quase 6 anos e está muito bem localizado na grande macissez hospitalar, no piso 01, logo não tenho de subir escadas, e no primeiro lance de cacifos, mesmo no início (1º coluna) e ao nível da minha altura, logo não tenho de me baixar para o abrir...que preguiçite crónica não !!??
Bem, mas retomando o anterior, depois de voltar da enfermaria e antes de ir para o almoço, lá ia eu no ritual usual desta hora, abrir o cacifo, tirar bata e estetoscópio, vestir o acessório, pegar na senha grátis de alimentação...mas no início desta dinâmica rotinada, havia algo que oferecia resistência...não conseguia abrir o cacifo! Pus-me a pensar o porquê de tanto entrave e deu para perceber que de tão cheio que estava, exerceria pressão sobre o sistema da fechadura.
Pedi ajuda a uns colegas para inclinar para trás, e em bloco, o bloco de cacifos, para que a gravidade também desse uma ajuda e o conteúdo do cacifo desimpedisse a fechadura. Mas estava complicado e até surgiu mais um imprevisto...o vidro grande e fosco que estava por detrás acabou por se partir parcialmente...e parte dos estilhaços iam caindo em cima de um senhor que estava sentado, do outro lado, num banco “tipo de jardim”...sim, um daqueles que existe perto da sala de alunos! Claro que depois disto, uma auxiliar que passava por ali, no timing certo, começou a refilar e eu tive de apaziguar e explicar o sucedido...
No meio deste impasse, surge um colega mais encorpado e despachado que reparou no sucedido e pediu a todos que cessassem o esforço. E lá vai ele, todo decidido e com alguns cavalos de força, começar a maltratar o dito cacifo...e depois de várias marteladas lá conseguiu...
Mas acho que não aprendi muito com este filme, até porque o cacifo continua a rebentar por tudo o que é lado...
Ah!.. e o tal vidro ainda continua partido...não se dá muito por isso...mas é para continuar?