sexta-feira, 23 de março de 2007

Winds of changing




Se há uns anos atrás me tivessem dito que este ano lectivo me sentiria assim, eu não acreditaria! Assim, como? Pois, ao rubro, sem palavras para descrever a intensidade das emoções que cada novo dia me vai trazendo. E o pior é que o tempo voa, escapa-se-me... E eu näo sei o que fazer...

Definitivamente, sopram ventos de mudança! Tenho andado tão absorta, tão mergulhada neste oceano sem fundo de pensamentos, recordações e sentimentos, que negligencio alguns aspectos da minha vida. Mal como, mal durmo, mal me concentro. Pareço um cano entupido!

A minha vida prepara-se para dar mais uma volta de 180º, mas não é isso que me preocupa. Antes, quero terminar de arrumar bem este passado e fechar a porta atrás de mim com a tranquilidade de quem sabe que chegou ao fim. O que estou prestes a terminar é muito mais do que um curso, é uma metamorfose. E ainda que a borboleta tenha uma vida curta, vale a pena deixar de ser larva!

Por todos os lados sopram ventos de mudança, que me envolvem num remoinho que me deixa desorientada, mas, também, feliz, como se fosse uma droga.

Aos meus queridos amigos de Lisboa, peço desculpa por não estar tão presente como costumava, em todos os sentidos. A verdade, é que a minha vida não é a única em pleno processo de transformação e sem nos darmos conta, os ventos de mudança revolveram as nossas vidas e já nada é como antes. Tenho saudades do passado, mas encaro o futuro cheia de fé e esperança. Pensamentos positivos, lembram-se?!

Com todo o meu carinho, RD

terça-feira, 6 de março de 2007

Sócrates

Já dizia o Sócrates (o filósofo, não o primeiro-ministro): «Conhece-te a ti mesmo!». Sem dúvida, um grande conselho! Estive a deitar umas contas à vida e fiquei a compreender-me a mim própria um pouco melhor.

Ah... natureza! Ah... Se fôssemos só animais, perderíamos o mais importante da vida. Mas se fôssemos só racionais, perderíamos o mais divertido!

Agora que percebi, já não estou zangada, já não me pesa o mau humor, antes, sim, a tremenda vontade de fazer disparates e de abraçar toda a gente. Pena que não o possa fazer...

Oficialmente, ficam aqui decretadas a minha loucura e a minha paixão pela vida! E seja o que Deus quiser...

PS: Pode ser que percebam sobre o que estou a falar... pode ser que não! Eheheh

segunda-feira, 5 de março de 2007

Marinheiros à deriva e ovos estrelados

É sobejamente conhecida em Portugal a perfeita ignorância e/ou falta de talento dos espanhóis para as línguas - com salvaguarda das merecidas excepções, porque também as há – mas nem assim consigo deixar de me surpreender com isso.

No sábado de manhãzinha cedo, vi-me na inevitável contingência de ter que «levantar o cu da cama», com o perdão pela palavra, para ir ao banco resolver uns problemazitos que não podiam esperar. Como os nossos estimados vizinhos espanhóis só sabem funcionar das 8 ou 9h da manhã às 14h non-stop e esse é, também, o meu horário, não me restava nenhuma margem de manobra, de forma que tive de sacrificar a minha manhã de sorna ( que seria bem merecida, diga-se de passagem...).

Pois bem, lá estava eu no banco, tratando daquelas coisas que ninguém gosta de tratar, quando me entram pelo edifício três jovens muito loiros, muito pálidos, ainda cheirando a cueiros e com olhos azuis interrogativos, pedindo que se lhes fizesse o cambio de dinheiro russo para euros. EM INGLÊS, naturalmente... A princípio, não liguei nenhuma, mas depois fui-me apercebendo do alarido que se fazia do outro lado do balcão. Os três pobres coitados já estavam a dar meia volta, quando lhes digo: «I speak English. Can I help you?!». Calou-se toda a gente e eu senti o sangue aflorar-me ao rosto. Não coro facilmente, mas custou-me ser o centro das atenções naquele instante. É verdade que não sou nenhuma perita em inglês, mas consigo desenrascar-me bem. Haviam de ter visto a cara que eles puseram, quando olharam para mim. Um avançou na minha direcção e explicou-me o que se passava e eu lá traduzi para o homem do banco. Para trocarem o dinheiro, tinham de ir a outro banco, que ficava na rua tal e qual. Infelizmente, eu não sabia onde era. Disse-lhes que me dessem um segundo, que eu ía apontar-lhes o nome da rua num papel, para que eles voltassem a perguntar na rua, ao seguirem um par de instruções básicas. Não sei se viram o demónio ou algo parecido nos meus cabelos escuros e nos meus olhos quase negros, tão diferentes do seu fenotipo, mas, definitivamente, algo os assustou, pois não esperaram e saíram porta fora, deixando-me com cara de parva. Ainda tive tempo para lhes perguntar se tinham entendido o que eu lhes dissera e responderam-me que sim, enquanto continuaram na direcção da porta, perante o meu olhar estupefacto. Desconheço o motivo da fuga...

Virei-me para o homem do banco que estava a atender-me e disse-lhe que aquela estranha atitude deveria servir-me de lição, para não voltar a meter-me onde não sou chamada, mas que, desgraçadamente, não suporto ver gente com problemas e não mover uma palha, quando sei que poso ajudar. Em particular neste estilo de situações, pois já soube o que era querer comunicar-me e não conseguir fazer-me entender. Perguntou-me o homem: «Estavas a falar com eles em inglês?». Nesse instante, o sangue fugiu-me todo para um qualquer recanto desconhecido do meu corpo, pois estive quase a pedir uma cadeira para me sentar. O quê?! A ignorância é assim tão grande??!! Estarei a ser demasiado exigente?

Os russos eram putos que não deviam andar longe dos 18 anos, se é que os tinham. Eram marinheiros, a sua fatiota não enganava, mas andavam completamente à deriva nesta terra de boa gente. Imagino que tudo lhe soasse estranhíssimo, quase exótico. E fiquei com pena deles. Mal sabem o que os espera!

Depois de tudo isto, saí do banco a pensar no meu avô, que sempre dizia: «O saber não ocupa lugar!». Sempre gostei de línguas e quero aprender o mais que puder. Poucas coisas dão tanto prazer como chegar a um sítio totalmente desconhecido e diferente do que estamos habituados e sermos capazes de nos fazermos entender.

E como os pensamentos também são como as cerejas, montada na minha bicicleta de adolescente e ziguezagueando por entre o mar de gente que enchia a zona do mercado, acabei por me rir que nem uma perdida, quando me lembrei de uma velha história de família. Ora topem só!

Em Agosto de 1989, ainda existia uma coisa chamada Checoeslováquia, cuja capital era a magnífica Praga. Naqueles tempos, os habitantes da belíssima cidade só falavam 3 línguas: croata, russo e uma outra que não me recordo, devido à mentalidade do regime político que imperava naqueles tempos. Durante toda a estadia, não me lembro de ter encontrado uma pessoa que falasse o inglês fluentemente. A nossa safa, minha e dos meus pais, foi termos dado com um português na rua, que vivia por lá e que se condoeu de nós e nos deu um dicionário, com o qual pudemos circular sem demasiados problemas. Um dia, num restaurante, a minha mãe decidiu pedir um ovo estrelado a acompanhar o prato que tinhamos estado a pedir a todas as refeições, por falta de melhor oferta. A minha mãe não é uma poliglota de verdade, mas fala francês, inglês e espanhol (para além do português, é claro) e arranha umas quantas coisas em italiano e alemão. Agora, como ela diz, já não se lembra de quase nada, mas as muitas viagens que fez na sua juventude, aliadas à sua curiosidade natural, fizeram o trabalho de casa. Pediu o bendito ovo em todas estas línguas que sabia e, desesperada, aceitou a sugestão do meu pai para desenhar o ovo. Fez um inteiro e outro estrelado, mesmo ao lado. A empregada continuava a abanar-lhe a cabeça. Então, furiosa, a minha criativa mãe dobra os cotovelos e começa a levantar os braços, para cima e para baixo, à guisa de asas, ao mesmo tempo que cacareja como uma galinha. No restaurante, todos se calam e começam a olhar para ela, enquanto eu e o meu pai damos pulos na cadeira de tanto rir e não conseguir parar. Envergonhada, corada e sorrindo, a empregada diz-lhe que sim, por fim. Para infelicidade da minha mãe, trouxe-lhe um ovo, sim, mas não estrelado...