terça-feira, 26 de dezembro de 2006

a cabeleira

Com sandálias velhas calçadas, todos os Verões, durante as férias, havia visitas à horta e passeios pelos montes transmontanos com o pai a fazer-se de guia. Mas guia mesmo! tipo: boné na cabeça, vara de pau empunhada, chefiando um grupo de pequenos caminhantes ansiosos por voltar para a televisão e com um ar de senhor professor que, avançando por entre a vegetação seca, perguntava “que espécie de árvore é esta?” E os pés enegrecidos pela poeira pontapeavam-se disputando a resposta acertada!
Foram muitas as árvores que aprendi a identificar com estas lições, mas mais ainda são aquelas cujo nome desconheço por completo! Com tanta árvore por este mundo fora só não percebo que ideia marada foi aquela que tive nos tempos do colégio!

As tesouras sempre constituíram um material de grande utilidade para as crianças. Naquele dia os cabelos foram as vítimas! Com uns golpes consentidos e outros menos (a Barbie lá do sítio desconhece por completo o seu contributo…), foram de todas as cores as madeixas que recolhi na minha turma. Depois, juntamente com os meus cúmplices, fazendo uma covinha no canteiro, “semeei” aquela que viria a ser uma nova espécie de árvore: a cabeleira.
Quando digo “viria a ser” significa que, para os pseudo agricultores, era mais que certo ter ali, num futuro próximo, uma frondosa e bonita árvore que no Verão seria morena, loura no Outono e careca no Inverno (a estação primaveril ficou por colorir).
Pois é… para quem tem capacidade para aceder a um blog e ler estas linhas, é fácil concluir que o local permaneceu vazio! Para quem tem a idade das tesouras e pôs esperanças naquele pedacinho de terra, a culpa esteve na falta de rega! Sábia conclusão!

Há anos que não vou ao colégio! Confesso, no entanto, que quando um dia lá voltar (e isto não contem a ninguém), serei incapaz de não ir espreitar o dito canteiro… just in case…


A Árvore da Vida-1905
Gustav Klimt

segunda-feira, 25 de dezembro de 2006

Uvas vs Bicicleta

Aos 7 anos de idade tive mais um dilema, um entre tantos outros que caracterizam este período rebelde...estava numa aldeia de família que já de si seria familiar, num dia solarengo de Junho e perto do final de um almoço até então "comido" num ápice, quase sem respirar, mas eis que surge uma sobremesa considerada saudável e apetecível pelos demais adultos e não só, mas não para mim, estranho até, porque eu já era considerado um "bom garfo". Nesta altura, o leitor deve estar a precisar de respirar devido à extensão da última frase nada "Saramagoniana", pois pelo menos tem umas vírgulas a pautar o ritmo (não se trata de uma crítica implicitamente directa!), mas voltando ao assunto...qual seria o prato final "sobre a mesa" aqui em questão? Algo pouco comum? Pelo contrário, até é bastante tradicional no nosso país, bem regado por sinal! As uvas! A minha Tia que acumula também a pasta de Madrinha, propôs-me, após largos minutos de insistência, que se eu comesse de vez o tal cacho do fruto não desejado, ganharia em troca "uma... - aqui aplicar-se-ia mesmo a expressão: Ok, leva lá para casa a - ... bicicleta "!!! - isso mesmo...nada mais nada menos do que esse meio locomotor! Era o agora ou nunca, umas míseras uvas contra uma bicicleta, mas no fim prevaleceu o menos provável, até nestas idades... não comi as tais uvas, fiquei com menos Km de estrada! Resumindo, a prova não foi superada, ganhou o Nunca e eu passei a pisar mais uvas!

sábado, 23 de dezembro de 2006

História de uma caneta...

Agora que recordo com alguma distância temporal essas ditas aulas, lembro-me de um determinado dia na Escolinha: durante uma aula de Francês, estava eu no miolo habitual das carteiras de uma sala, não muito grande mas arejada o suficiente para 31 cabeças pensantes...e no meio de uma desatenção natural mas causal (qual seria o porquê de tanto desinteresse?), nos gestos também naturais do corpo relaxado, lá ia eu manobrando de vez enquando uma caneta Parker com as duas mãos, qual microfone à Marco Paulo... e num desses devaneios motores surge um acaso e a caneta salta caprichosamente, ficando presa nas costuras das minhas calças Jeans de marca e algo desgastadas, numa zona algo embaraçosa... tentei, sem sucesso, retirar a caneta do seu alvo, mas não estava fácil... contei, algo constrangido, ao colega da frente, o qual depois de se aperceber, descascou-se a rir... a "Stôra" não gostou daquele barulho e mandou-nos ir apanhar ar... mas quando levantei-me, a dita caneta continuava teimosamente a não querer sair da sua nova casa, tipo pêndulo de relógio de caixa alta...marchei ao som de um novo tic-tac até que a Senhora Professora e restante turma reparou no apêndice... O que é isso? Perguntou a autoridade...não soube explicar o inexplicável...chegou a hora do intervalo e lá continuava a caneta na sua nova localização... pelo que decidi começar a desmontar o que dava da sua anatomia... e no fim de tudo, fiquei só com parte desta agarrada à costura...e passado algum tempo só um rasgão, como reflexo da marca do acaso...

Do fôro psiquiátrico com amor

Dizia-me a minha amiga brasileira, esta noite, no msn: «Aí, minina, sábi quein eu encontrei lá no bar? Adjivinha!». Curiosa, respondi: «Não. Conta lá!». Então, ela dise: «A turma de médicos psiquiatras lá do hospitau. Os côroas todos, enchendo à cara e fazendo piada dji tudo. Vem um residentxi e gruda em mim a noitxi toda. Eu me acabáva de ri! Aí, quândo eu ía embora, ele mi dá seu número e djiz pra mim qui si souber como vai sê o exame, me fala no ouvido. Cê já viu isso?!! Só me sai doido na rifa!!». Hay que ver esos gaditanos...

terça-feira, 12 de dezembro de 2006

Matarruano

Imaginem o seguinte filme:

Eu tinha o carro estacionado numa determinada rua estreita de Lisboa há já 3 dias...tudo normal até agora, certo?? Mas atenção!!! Bem estacionado e dentro da lei, e eis senão quando, decido tirar o dito carro...mas não estava fácil, e porquê? Seria do condutor? Neste caso não... tinha um carro atrás a bloquear a saída...que vendo bem, até é normal quando se trata de uma rua estreita em Lisboa (caos). Começo a apitar para ver se o condutor do bólide dava sinal de vida...houve uma pessoa que se revelou ser um falso alarme, não era o seu carro...mas passado mais alguns minutos e uns decibéis a mais, apareceu uma espécie na casa dos 40 anos, tipo matarruano, com corpo preguiçoso, olhos encovados e de perturbado, barba por desfazer, cabelo anti-shampo que pareceu dirigir-se para o "outro" carro...abordei-o com um Boa Noite e perguntei se aquele seria o seu carro, ao que ele respondeu: GrrrhGrhhh (não percebi o dialecto). Agora o leitor acharia que tudo se resolveria por aqui...nada disso! O "Zé Matarruano" fez marcha-atrás para aí uns 20 cms bem medidos, que não dariam, nem para um Smart (não era o caso), o espaço suficiente para fazer a manobra. Saí do carro, e interpelei educadamente o tal senhor, o qual saiu do carro à bruta e provido de um taco de Baseball...puxou o taco atrás e lá ia eu levando uma bastonada se não tivesse estado minimamente calmo e não tivessem aparecido umas pessoas no timing certo ...entretanto a minha irmã que estava dentro do meu carro, aquando da manobra mal sucedida por dificuldade alheia, saiu do seu lugar e começou a gritar e a perguntar que algazarra seria aquela e se o Homem teria saído de "algum Júlio de Matos"; desta feita a espécie Matarruano Matarrunae Brutus investe a sua idiotice sobre ela e foi aí que uma Carmo e uma tal de Trindade caíram...pelo que eu participei do sucedido à polícia local. Convém notar que depois de saneada a confusão, e já a caminho da polícia, passou um carro patrulha em sentido contrário, o qual não reagiu a sinais de luzes/apitos do meu carro, continuando serenamente o seu caminho com o objectivo de chegar "não sei aonde e não sei a que horas".
Tenho dito.
Esta poderia ser a máscara desta espécie rara:

Isto é uma EsPéCiE dE BLoG

E assim surge mais um blog nesta Blogosfera...vindo do nada, talvez para nada e quem sabe até mais "um nada" neste novo meio!
Esta nova espécie sem taxonomia para já, ainda não determinou qual ou até quais os seus propósitos, o que pretende vir a ter para caçar, que habitat pretende primeiro, para estar...e, depois, sim "estragar"...
Mas calma...este novo "specimen", The Special One, pode falar sem baralhar, da intemporal Selecção Natural, que te desafia em constantes provas de quase-fogo ou até de fogo e, que te incendeia desde a tua 1ª célula até à última que perecerá...por isso deixa o rastilho do teu rumo bem aceso, com testemunhos que desenrolares da tua mente, essa sim pertencente a uma Espécie bem conhecida e às vezes desmedida.
Se conseguiste ler até aqui, considera-te um resistente... por isso não deixes em reticências o que podes dizer com um conjunto de letras, que juntas formam códigos (i)lógicos e que num encadeamento estabelecem um sentido, que por sua vez subentendido ou não, pode revelar muito do teu Ser!

Junto envio uma rima fácil que inventei e que constitui o Meu Azimute:

"Em tempestade ou na bonança, haja sempre perseverança!!!"