terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Esperança

Casacão pesado, lenço na cabeça e enormes sacos pendendo dos braços, a mulher negra discursava gritando do lado oposto da plataforma do metro: "...que raio de mundo é este?!...todos criticam a escravatura, os judeus já não são perseguidos, defendem-se os direitos dos animais, mas vidas humanas com menos de 10 semanas de existência podem ser aniquiladas?!!!!..."

Do lado de cá da estação, aguardando o transporte de regresso a casa, era impossível não ficar impressionado com aquela figura que, cada vez mais embravecida, não se calava!

"É maluca", comentou uma boca coberta de batôn vermelho ao meu lado.

De facto, parecia maluca. No entanto, não encontrei NADA que não fosse verdade no que ela dizia! E foi isso que transmiti à minha vizinha no momento em que nos levantávamos para entrar na carruagem que entretanto se aproximava. "Tem razão"- desabafou - "maluco é quem não reage ou aprova que se mate quem ainda mal começou a viver!"

Como passageiras cansadas que estávamos, ocupámos os últimos lugares sentados. No vidro a que me encostei um autocolante lembrava que aquele banco deveria ser cedido a quem estivesse sob condições especiais- grávida, nomeadamente. Olhei em volta e não vi nenhuma. Veio-me então à cabeça uma frase de Tagore: "Cada criança que nasce traz a mensagem de que Deus ainda não perdeu a Esperança no Homem."


Será que Deus está a perder a Esperança no Homem?


Sendo Esperança o título que dei ao texto que acabei de escrever, parece-me um pouco triste a frase com que o termino. Assim, prefiro acreditar que, um dia, TODOS reconheçam que TODOS têm direito a nascer e desse modo Deus tenha motivo para ter Esperança no Homem.

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