quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

Pensamentos que me ocorrem quando estou na biblioteca

Cá estou eu de volta a Cádiz, de regresso às madrugadas geladas e húmidas antes de entrar no forno do hospital e às tardes passadas na biblioteca a fingir que se estuda. Apesar de tudo, não me queixo. A vida vai-me correndo bem e já vejo o fim desta longa etapa com alegria, mas, também, com uma pontinha de nostalgia. Quem diria...

Parece-me que tudo se passou demasiado rápido e, simultaneamente, demasiado lentamente. Tenho a sensação de viver em duas realidades paralelas: uma, a real, a do tempo presente; outra, a psicológica, a das constantes viagens no tempo. Se, por vezes, esta sensação é incómoda, outras vezes é como uma verdadeira droga e eu sou a mais viciada de todas as pessoas que a experimentam. Faz-me sentir muito viva e lembra-me o quanto tudo na vida é tão efémero e relativo. Porque a cada passo que dou algo me recorda o que já vivi e me faz pensar em como a minha realidade mudou, em como eu cresci. Céus! A minha mãe disse-me, um dia, que os nossos sentimentos parecem pobres quando traduzidos por palavras e ela estava coberta de razão. Como posso explicar isto? Só posso dizer que me sinto esmagada pela intensidade desta emoção.

Hoje, a biblioteca está quente e cheia de gente e isso só agrava a moleza do meu corpo e a minha pouca vontade de estudar, ao mesmo tempo que me estimula a pensar naquilo que não devo. Sabem como sabemos que estamos velhos numa faculdade? Quando olhamos para as pessoas à nossa volta e quase não reconhecemos ninguém! lol

Observo um dos meus colegas portugueses que se muda de lugar. Ele olha para mim um pouco espantado e eu rio-me. É um malandro cheio de sentido de humor e inteligência, mas não se dá a conhecer facilmente, o que é uma pena. Bom, pelo menos, para mim. Outro, brinca com a caneta, tentando concentrar-se. Quando aqui cheguei, isto era um deserto. Agora, formamos uma comunidade interessante e juntamente com os brasileiros, a coisa fica ainda mais animada. Espero que todas estas pessoas sejam felizes enquanto estiverem aqui e que, um dia, possamos voltar a encontrar-nos.

Hoje, estou com a macaca! Só me apetece dar o grito do Ipiranga, pintar a manta e abraçar todos aqueles que me são queridos. Infelizmente, isso não é possível, pois nem todos estão aqui, fisicamente perto de mim... É a dureza da imigração!

Tenho muitas coisas para dizer. Serei capaz de traduzir os meus sentimentos por palavras? Logo se verá...

2 comentários:

Anónimo disse...

Gosto muito da tua forma de escrever. Comunicas, realmente. A escrita tem que ser Comunicação. Por isso, não páres, por favor. Conta-nos episódios da tua experiência no hospital.
Fico a aguardar, cheia de expectativa.
Beijinho grande
Uma grande admiradora
The true colors of Life

rainbow_dreams_girl disse...

To "the true colours of life": Rainbow coloured dreams are the true colours of life! Thank you...